Talvez o Livio que ficou fascinado o “Cine Privê” em 2011 não entendesse isso muito bem, mas uma coisa que a “idade” me trouxe foi o desejo que alguns dos meus artistas favoritos nunca mudem. Há de quem eu espere reinvenções, mas da maioria eu só quero mais. Domenico é um desses.

Domenico é meu +2 favorito desde que o +2 existia. Talvez por não ter a pressão do sobrenome e da pecha de “grande produtor”, Domenico sempre me pareceu o mais livre, o mais disruptor dos três. O “Sincerely Hot” para mim é um marco na música dos anos 2000, e o que se seguiu é tão interessante quanto, mesmo que não tenha tido a mesma repercussão.

A música de Domenico é como João Donato liderando o Stereolab, só que com metade dos sintetizadores desligados. Sempre com o pulso bem marcado como se espera de um “disco de baterista”, é um som ensolarado, mas não necessariamente quente. Tem sempre uma sombra, uma brisa fria entrando pela janela.

Lançado há alguns meses, “Raio” não muda muito, ainda que se descubram outras nuances como o arroubo romântico meio Sullivan & Massadas em “Vinho Velho”. Como em “Cine Privê” e “Serra dos Órgãos” (2017), a faixa de abertura, “Vai a Serpente”, é um bom exemplo de como as coisas funcionam: após nos conduzir, a música se dissolve em sintetizadores, um efeito que Domenico já havia usado em “Cine Privê” (a faixa) e “Voltar-se”.

Essa natureza quase amorfa faz as obras solo de Domenico soarem deslocadas no tempo, o que talvez contribua a esse minha expectativa que as coisas continuem sempre assim. “Raio” cai tão bem agora, como cairia e cairá em 2004 e 2034.

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