Há alguns anos, vários sites deram uma matéria cata-clique sobre uma suposta pesquisa que afirmava “cientificamente” que Coldplay era a banda que dava mais sono nas pessoas.

Como antigo fã Coldplay (oie), eu até podia ter ficado irritado, mas lembro de achar divertido, mesmo que não fosse verdade. Coldplay não é a banda que dá mais sono, mas não teria nenhum problema se fosse.


Eu não lembro exatamente como começou, mas tomo o início do Ensino Médio como o início dos meus problemas para dormir. Ao longo desses 15 anos, meu sono nunca foi “bom”, nunca foi fácil. Como há dias e dias, há noites e noites, e tem noites que não duram nem uma hora.

Hoje em dia, estou mais escolado no meu corpo e tenho minhas estratégias para dormir um pouco melhor, mas pegar no sono ainda é uma batalha. É como a Fiona canta, “Every single night’s a fight with my brain”. Ou como aquele meme em que você só quer dormir mas seu cérebro tá cantando Mambo Nº 5. Meditação ajuda, fazer exercício de dia ajuda, mas, no fim das contas, o que mais me ajuda a dormir é ouvir música.

Desde que quando eu não me entendia como insone, a música é para onde eu fujo para desligar. No início, deitar era sinônimo de pegar o discman e um monte de CD-R. O iPod facilitou um pouco as coisas. E o streaming permitiu que eu levasse (quase) todas as músicas comigo para cama.

Adormecer ouvindo música acabou ajudando a criar uma relação especial com alguns álbuns e artistas. “Heaven Or Las Vegas”, disco que eu tenho tatuado, é também o disco que eu mais ouvi antes de dormir. Ainda é o disco da minha vida hoje porque é aquele que me ajuda a por a cabeça nos eixos, que amansa o coração.

Ainda que o Cocteau Twins seja campeão, outros álbuns foram o “disco do soninho” ao longo desses anos. Foram muitas noites com o “Yellow House” do Grizzly Bear. Outras tantas com o “Smother” do Wild Beasts, ou “Lost Souls” do Doves. O sono bêbado ainda é coisa para o “Merryweather Post Pavillion” dar conta.

Bem antes disso, foi um choque quando eu descobri que o “Clube da Esquina” tinha algumas das músicas que minha mãe cantava para me ninar quando criança. Na primeira vez que eu ouvi o “Sgt. Peppers”, eu dormi e acordei no susto com o coda de “A Day In Life”. Ainda hoje, a suíte final do “Abbey Road” é meu momento favorito dos Beatles porque é infalível em me fazer relaxar antes de dormir.

Por incrível que pareça, discos que parecem óbvios candidatos a “disco do soninho” como os álbuns de música ambiente do Brian Eno não funcionam bem – parece que falta um centro, alguém que me guie até o lado de . Eu lembro até hoje a primeira vez em que ouvi o “Discreet Music” (. De noise/ambient, meu preferido para dormir é o Tim Hecker, especialmente o “An Imaginary Country” por aquelas melodias continentais.


Em 2019, o “disco do soninho” começou sendo o “Assume Form” do James Blake, passando pelo “When I Get Home” da Solange. No entanto, especialmente nos últimos meses, o campeão tem sido “Quiet Signs” da Jessica Pratt. Eu dormi (figurativamente) nos discos anteriores dela, mas esse é um dos álbuns mais bonitos desse ano.

É incrível como ela faz tanto com tão pouco: é um violãozinho dedilhado, umas cordas aqui e ali, um solo de flauta desapercebido, e o fiapo de voz que conduz tudo. Eu já falei que tenho um queda por vozes estranhas e a da Jessica Pratt é um arquétipo do que eu gosto: um timbre agudo e suave, uma emissão quase sussurrada com pouquíssima preocupação em enunciar. Ela canta como quem desenha a mão-livre: é delicada mas inerentemente imperfeita.

Quando chega na terceira música, “Fare Thee Well” (ecos de Joanna Newsom) é bem possível que eu já tenha ido, mas “This Time Around” me puxa de volta. Dois acordes e uma voz:


Em tempo: apesar do primeiro disco do Coldplay ainda ter a melhor sequência para dormir (de “Trouble” a “We Never Change”), o meu favorito em qualquer situação ainda é o “A Rush Of Blood To The Head”. Foram muitas noites caindo no sono ali entre “Green Eyes” e “Warning Sign”.

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