Ao contrário de 99% da minha geração, eu compro música. desde de criança. se não me falha a memória, tudo começou com um vinil da xuxa, seguindo para trilha de power rangers (aquela com a música do sandy & júnior), um best of do lulu santos, aquele legal do ed motta e continuando por um milhar de outros título até chegar no power, corruption and lies do new order em vinil que eu comprei por 8 reais semana retrasada no vendedor que aparece sábado na esquina da rua das laranjeiras com a general glicério.

Eu baixo música de graça, muita, mas pelo menos durmo todo dia com a minha consciência certo de que paguei e ainda pago o suficiente para que uma centena de artistas e trabalhadores da indústria da música (já fui um deles também) consigam colocar comida na mesa com alguma dignidade.

Em vários aspectos, acredito que qualquer um que venda música me consideraria um consumidor quase ideal. eu gosto de comprar música e tal.

Mesmo assim, atualmente ando bem insatisfeito como consumidor. e não é nem porque faltem opções boas – fora mídia física, eu compro na itunes store, assino o rdio e ainda tenho uma conta ativa no play music do google – o que me irrita é o fato de nenhuma empresa ainda ter oferecido um serviço completo e minimamente customizável.

Não venham me falar em spotify porque até agora eu não vi nenhuma ideia realmente brilhante vinda do daniel ek. música de graça? OLD. música social? OLD. tudo já feito e refeito e nenhum esforço real em diminuir o atrito no ato de ouvir música. ele quer é fazer dinheiro, in it for the money, not the music. eu não quero uma lojinha com apps da coca cola, starbucks ou sites fuleiros de letra e tal. eu quero algo que me ajude a colocar ordem no caos. só isso.

Eu entendo que a ideia da celestial jukebox  – o termo acho que é do bob lefsetz ou alguém do naipe e é basicamente ter toda a música em qualquer lugar a qualquer hora ao alcance de um swipe numa tela ou um comando de voz tipo ~toque beatles~ – ainda demora o tempo do custo/cobertura/velocidade da internet móvel chegar a níveis satisfatórios (no Brasil isso ainda leva uns 10 anos ou mais, prevejo), mas posso querer, por exemplo, que o meu serviço de streaming aceite que meu bootleg daquele show do wilco em chicago tem o mesmo espaço na minha coleção que o último disco deles?

Posso poder ter num mesmo serviço streaming, music locker e uma loja de mp3 e tudo isso com algum tipo de sincronização/sharing simples, customizável e sem atrito com um dispositivo móvel e/ou sistema de som? eu entendo que há alguma burocracia envolvida nisso (sério, eu realmente sei disso), mas não venha me dizer que o google ou a apple ou mesmo o facebook não tem força o suficiente para peitar uma indústria que o senso comum realmente acredita que vai morrer nos próximos 10 anos.

Tanto a parte muscial do icloud e quando o google music/play music foram grandes decepções. historicamente, eu diria que a apple tinha tudo para fazer a coisa certa e oferecer tudo num mesmo lugar. não rolou e o itunes match é uma das coisas mais nebulosas que eu já vi. é streaming? é download? posso baixar tudo de volta depois? já o google music sofre de definição de produto. o produto é a loja de música ou o music locker? é realmente legalizado? por que eu não posso pagar por mais espaço se eu quiser? por que o youtube – a maior biblioteca musical atualmente – não está incluído no pacote? por que é tão difícil imaginar que talvez depois de tocar ceremony do new order na versão da substance eu talvez queria assistir àquela apresentação da banda em barcelona em 1984 que é simplesmente demais e tem em boa qualidade no youtube?

Por que ninguém me deixar pagar por música da maneira que quero pagar por música? you don’t really love me, you just keep me hanging on, indústria da música.

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