10) “Golden skans”
Klaxons

Enquanto o mundo se concentrava na discussão boba da new rave (existe? não existe? é legal?), os Klaxons preferiram surfar uma outra onda ao invés daquela que eles próprios (supostamente) criaram. Esqueça o disco-punk com influências madchester, “Golden skans” é puro indie-rock psicodélico perfeito. Dá pra dançar, dá pra ouvir na rádio, dá pra bater cabeça no show e também dá pra chacoalhar alguns glowsticks, se for o caso.
09) “D.AN.C.E.”
Justice
Mais que uma música, essa aqui foi quase um fenômeno cultural. O refrão, a palavra de ordem (“do the dance!”, o clipe, os remixes… Tudo em “D.A.N.C.E.” tem um brilho pop capaz de agradar de metaleiros a fashionistas, e colocar todos esses pra dançar na mesma vibe Daft Punk encontrando Jackson 5.
08) “All I need”
Radiohead
Foram 15 anos para que o Radiohead lançasse sua canção definitiva sobre amor, desejo e obsessão. “All I need” é “Creep”, “High and dry”, “Climbing up the walls” e “True love waits” em uma única música. O instrumental é bastante simples, uma batida fuleira de trip hop que vai duelando com um sintetizador pesado e distorcido e com notas esparsas de um piano, enquanto a voz canta, disléxica, a letra cheia de imagens estranhas e poderosas. Uma mariposa rodeando a luz no teto, um animal preso num carro, os dias que você escolheu esquecer. No final do segundo refrão, a melodia do piano começa ficar mais forte, até que explode junto com a discreta levada de bateria. É o momento em que “In Rainbows” e o Radiohead se revelam em toda a sua grandeza. É o terror das últimas esperanças presente no refrão de “There’s a light that never goes out” dos Smiths misturado com o êxtase espiritual e idealista de “All is full of love” da Björk. É inefável. Nessa confusão de sentimentos, Yorke mata a charada: “it’s all right, it’s all wrong”.

07) “Bros”

Panda Bear
Provavelmente, os melhores 12 minutos (!) de 2007. Ou seria uma vida inteira encapsulada numa música? Verdade é que “Bros” me fez sentir muito mais do que eu poderia compreender. É como se, mais do samples, o Panda Bear tivesse colado pedaços de memória aqui, onde cada barulho remete a um momento, uma história, uma pessoa. É uma sensação estranha (no começo), mas poucas vezes a estranheza soou tão doce.
06) “Let’s dance to Joy Division” MP3
The Wombats
Não dá para entender realmente o que os Wombats quiseram com essa música. É só mais um pop de três minutos à Libertines que você já está cansado de ouvir (e dançar). É ordinária, estúpida e incrivelmente grudenta. Mas o que falar do refrão? Thom Yorke fingindo burrice e bom humor? Damon Albarn voltando a ser liricamente relevante? Realmente, ainda não sei como um refrão tão idiota pode sintetisar com tanta perfeição a dualidade ambulante que é viver nos anos 2000. So let’s dance to Joy Division

05) “Impossible Germany” MP3

Wilco
Jeff Tweedy é um homem de grandes palavras e grandes melodias, não tenha dúvida. E “Impossible Germany” é perfeita, como várias outras do Wilco, nos dois quesitos. Confortavelmente estacionado no anos 70, Tweedy ecoa a sutileza rude de um Neil Young com o polimento pop do country alternativo que ele mesmo inventou no Uncle Tupelo. A letra pode ser construída por uma metáfora estranha (o amor é uma Alemanha impossível?), mas nem por isso deixa de emocionar. Aí chega o solo (coisa de velho, podicrê) e você fica incapacidado de balbuciar qualquer coisa. Então, cada nota da guitarra de Jeff é uma batida do seu coração e todas elas – vou cair num clichê trocadilhesco perigoso, mas foda-se – dizem eu te amo.
04) “Stop me” MP3
Mark Ronson feat. Daniel Merryweather
Por essa nem o Morrissey esperava. Quem diria que 20 anos depois, o rockão que foi trilha do fim dos Smiths se transformaria numa das melhores canções soul dos últimos tempos? Passando da crítica à mesmice do pop de 87 ao mal-amor desse 2007, “Stop me” traz a síntese do que Mark Ronson propôs nesses 2 anos de hype: produção caprichada que é tanto sessentista quanto doismilanista, vocal perfeito de algum dos seus protegés e conexões pop – o indie rock com a Motown, o branquelo nerd mal amado com a divas negras duronas e doces do soul – que são a cara desses tempos.
03) “Para abrir os olhos” MP3
Vanguart
Mesmo que seja baseada num lugar comum bem, uhm, comum (“o que importa é o que te faz abrir os olhos de manhã”), “Para abrir os olhos” ganha na sinceridade. Ainda que envoltos num hype estranho, o Vanguart se entrega como poucos ao que faz e com isso te leva junto na viagem. Entre o niilismo e a esperança, a canção passeia num campo que o pop já visitou várias vezes, – a busca por respostas como sentimento-motriz da vida – só que nesse caso isso é exatamente o que eles querem dizer, sem meias palavras, sem outras interpretações. E isso, não importa se é em 67 ou 2007, sempre funciona.
02) “Fireworks” MP3
Animal Collective
Seja pelo vocal de Avey Tare, seja pelo arranjo, seja pela melodia em si, é impossível não perceber que em “Fireworks” o Animal Collective quis ser tão entendido quanto necessário para entrar no inconsciente coletivo. A voz soa clara, expressiva, enquanto o arranjo é ordenado, quase racional. A melodia é brilhante e grudenta como em “Grass” e “Who can win a rabbit?”, mas agora sua jornada aos corações fica facilitada pela ausência do caos distrativos dos outros trabalhos da banda. Ainda um dos poucos quebra-cabeças irresolutos dos anos 2000, Animal Collective fez de “Fireworks” não só momento mais acessível, mas também sua melhor canção, uma daquelas para figurar entres as grandes do nosso tempo.
01) “All my friends” MP3
LCD Soundsystem
Poderia ser diferente? No momento em surgiu, lá no finalzinho de 2006/comecinho de 2007, “All my friends” já gritava alto que era uma canção destinada a grandeza: o acorde do piano repetido over-and-over crescendo little-by-little, batalhando com o baixo New Order das antigas (mais “Ceremony” do que “Perfect kiss”), a bateria kraut, os sintetisadores bagaceiros oitentistas e a guitarra indie-rock-raça-pura. Tudo isso costurado por um vocal firme de James Murphy. Ali, quando ainda dávamos os primeiros passos para dentro do ano passado, “All my friends” já era tudo o que precisávamos. Só que aquele refrão, aquela letra, aquele ritmo quase dançande, aquele sentimento de melancolia se transformando em alegria e motivação sinceras decidiram não sair das nossas cabeças, pés, e corações. Você se entrega: “Where are your friends tonight? Where are your friends tonight?”. Estava aí, em 5 palavras das mais simples, o zeitgeist que o Billy Corgan falhou em descobrir em um disco inteiro. E eu te pergunto, poderia ser diferente?

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